quarta-feira, 23 de maio de 2007

Se eu pudesse iluminar por dentro as palavras de todos os dias


[O soneto que só errado ficou certo.]



Se eu pudesse iluminar por dentro as palavras de todos os dias
Para te dizer, com a simplicidade do bater do coração
Que afinal ao pé de ti apenas sinto as mãos mais frias
E esta ternura dos olhos que se dão.

Nem asas, nem estrelas, nem flores sem chão
- Mas o desejo de ser a noite que me guias
E baixinho, ao bafo da tua respiração,
Contar-te todas as minhas covardias.

Ao pé de ti não me apetece ser herói
Mas abrir-te mais o abismo que me dói
Nos cardos deste sol de morte viva.

Ser como sou, e ver-te como és:
Dois bichos de suor com sombra aos pés
Compilações de luas e salivas.


José Gomes Ferreira